terça-feira, 10 de junho de 2014

PARA SABER MAIS SOBRE A ÁFRICA

Blogs sobre os Iorubás:

- http://1tndv1.blogspot.com.br/2013/08/o-reino-ioruba.html
- http://profissaohistoria.blogspot.com.br/2013/11/os-povos-iorubas.html
- http://culturaioruba.blogspot.com.br/
- http://civilizacoesafricanas.blogspot.com.br/2009/10/civilizacao-ioruba.html
http://mitologiacomentada.blogspot.com.br/p/ioruba.html



Filmes

Alguns filmes recentes 28 para exibição e também para sua formação como professor/a disponíveis no mercado brasileiro

• Kiriku e a feiticeira – Direção: Michel Ocelot, 1998 – desenho animado em que o protagonista é um menino africano às voltas com uma feiticeira má. Inspirado em conto africano, o filme é uma rara produção disponível em português para crianças. No site do CEERT há uma experiência premiada de utilização em sala de aula deste filme. Ver em http://www.ceert.org.br/modulos/educacao/edicoes.php

• Mestre Humberto – Direção: Rodrigo Savastano. Brasil, 2005, 20 minutos. Um passeio pela Lapa, Campo de Santana e pela África. Mestre Humberto, doutor em percussão e poesia, profeta poliglota da Lapa. Nesse curta falado em português, alemão e quimbundo, ele toca, canta e cita Sócrates. Pode ser acessado no site: www.portacurtas.com.br

• Maré Capoeira – Direção: Paola Barreto - Maré é o apelido de João, um menino de dez anos que sonha ser mestre de capoeira como seu pai, dando continuidade a uma tradição familiar que atravessa várias gerações. Um filme de amor e guerra. In: www.portacurtas.com.br

• Instrumentos africanos – Bira Reis, um especialista. Documentário. Direção: Júlio Worcman, 1988. Na Feira do Interior 1988, que reuniu em Salvador atrações dos diversos municípios da Bahia, o mestre Bira Reis apresenta sua pesquisa sobre curiosos instrumentos africanos. In: www.portacurtas.com.br

• Som da Rua – Vodu. Direção: Roberto Berliner, 1997, 2 minutos. Miriam Laveau é uma sacerdotisa vodu de Nova Orleans, herdeira creole das mais antigas tradições africanas. Aqui ela apresenta os cânticos vodus que falam da liberdade, mas para Miriam a liberdade, como ela aconteceu, só tornou as pessoas escravizadas. Pode ser acessado no site: www.portacurtas.com.br

• Amistad – Direção: Steven Spielberg – Baseado numa história real, o filme conta a viagem de africanos escravizados que se apoderam do navio onde estavam aprisionados e tentam retornar à sua terra natal. Quando o navio, La Amistad, é capturado, os africanos são levados aos Estados Unidos, acusados de assassinato e aguardam sua sentença na prisão. Inicia-se então uma contundente batalha, que chama a atenção de todo o país, questionando a própria finalidade do sistema judicial americano.

• Hotel Ruanda – Direção: Terry George. Em meio a um conflito que matou quase um milhão de pessoas em menos de 4 meses, em Ruanda, a biografia de um gerente de um Hotel em meio à luta para salvação de pessoas. O filme possibilita refletir sobre a herança colonial belga em Ruanda, o papel da ONU e os desafios implicados para superação do trauma pós-colonial.

• Um Grito de Liberdade – Nos anos 1970, na África do Sul do apartheid, Donald Woods (Kevin Kline) é um jornalista branco que conhece e se torna amigo de Stephen Biko (Denzel Washington), o importante militante pelos direitos dos negros. Quando Biko é morto na prisão, em 1977, Woods percebe a necessidade de divulgar a história do ativista, a perseguição que sofreu, a violência contra os negros, a crueldade do regime do apartheid. Mas ele e sua família também se tornam alvos do racismo, e precisam deixar o país às pressas

• Atlântico Negro: na Rota dos Orixás – Direção – Renato Barbieri, 1988. O documentário Atlântico Negro: nas rotas dos Orixás aborda a importância da história e cultura africana para o Brasil. O documentário evidencia a semelhança existente entre estes povos, sobretudo nos campos da religiosidade, da musicalidade, da língua, dos hábitos alimentares, da estrutura familiar e das manifestações culturais. Durante as cenas do filme são desconstruídas visões etnocêntricas e de censo comum sobre o continente Africano. A idéia de um território que vive em constante estado de guerras étnicas e civis, de fome e total miséria é desmistificada para mostrar a profunda experiência cultural da África e os intercâmbios ainda hoje em curso com o Brasil.

• Nas montanhas da Lua – Direção: Bob Rafelson. 1990. Baseado no livro de William Harrison. Em 1850 dois oficiais britânicos começam uma aventura para descobrir a fonte do Nilo. O filme aborda os diferentes interesses em jogo no longo processo de exploração científica levado a cabo por sociedades científicas européias em direção ao continente africano, evidenciando as representações sobre o continente e a relação desigual entre as culturas européia e africana no curso desta história.

• O elo perdido – Direção: Ficção. Expedição científica européia do século XIX captura dois pigmeus tidos por exploradores como o elo perdido. O casal capturado passa a ser estudado por cientistas que se utilizam do aparato científico do século XIX (craniometria, biometria e antropologia física) para comprovação de sua polêmica (posteriormente superada) hipótese a respeito do lugar dos pigmeus africanos na narrativa da evolução humana.

• TV Escola – vídeos de 1 a 20 minutos, produzidos no âmbito do Programa TV Escola, MEC, disponíveis para download em www. dominiopublico.com.br Há uma série especial História e cultura africana e afro-brasileira.

• O Jardineiro Fiel – Drama. Direção de Fernando Meirelles, 2005. Adaptação do livro de John Lé Carré. O filme permite problematizar o tema da exploração da população africana pela indústria farmacêutica.



Sites

Sugestões de sites para você visitar alguns centros de estudos do Brasil sobre história e cultura da África.

• Centro de Estudos Africanos, Universidade de São Paulo.( www.fflch.usp.br/cea/ )

• Centro de Estudos Afro-Orientais, Universidade Federal da Bahia. ( www.ceao.ufba.br )

• Centro de Estudos Afro-Asiáticos e Centro de Estudos Afro-Brasileiros, Universidade Cândido Mendes, Rio de Janeiro ( www.ucam.br )

• África e Africanidades - ( http://www.africaeafricanidades. com/index.html )

• Casa das Áfricas – ( www.casadasafricas.org.br )



Paradidáticos sobre História e Cultura Africana

Nos últimos anos, pode-se observar um crescimento de produções paradidáticas e de literatura que abordam aspectos diversos da história e cultura dos povos africanos. Veja alguns exemplos de materiais que estão disponíveis no mercado e que podem contribuir para os estudos sobre África junto a crianças e adolescentes: Obras que tratam de aspectos diversos da história da África e da presença africana no Brasil:

• “Histórias da Preta”, de Heloísa Pires de Lima, publicada pela Cia. das Letrinhas, em 1998: a obra se propõe reunir “informação histórica, reflexão intelectual, estímulos ao exercício da cidadania e historinhas propriamente ditas (tiradas da mitologia africana, por exemplo)”. Foi premiada com o título “Altamente Recomendável” pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil – FNLIJ, em 1998.

• “Agbalá, um lugar continente”, da artista plástica Marilda Castanha, inicialmente publicada pela Editora Formato, em 2001, foi reeditada pela Editora Cosac Naify, em 2008. A obra intercala pequenos textos com belíssimas ilustrações, que retratam, além de aspectos da vida cotidiana de escravos e da população afro-descendente, um pouco do universo mítico e simbólico desses sujeitos. A autora dá um destaque para as religiões de matriz africana, evidenciando o empreendimento de uma pesquisa cuidadosa sobre simbologias, rituais e seus significados. Ao final da obra, apresenta pequenos textos informativos sobre aspectos diversos da história africana e afro-brasileira, relacionando-os com episódios da história brasileira, em geral. Obras que reproduzem contos da tradição oral africana

• O escritor Rogério Andrade Barbosa morou na África e recolheu diversos contos, mitos e lendas originários de diferentes grupos étnicos africanos, a partir dos quais escreveu várias obras para crianças e jovens. Entre suas várias obras, vale a pena conhecer uma série ilustrada pro Graça Lima e publicada pela Difusão Cultural do Livro – DLC. A série tem como características um cuidadoso projeto gráfico e edição de boa qualidade, com papel brilhante, belas ilustrações e texto introdutório com dados sobre o conto, o povo de onde provém e sua localização em mapa do continente africano. São títulos desta série: ◦ “Duula, a mulher canibal” - (1999): reúne contos da tradição oral somali; ◦ “Como as histórias se espalharam pelo mundo” - (2002): conto de literatura oral do povo Ekoi, Nigéria; ◦ “O filho do vento” - (2003); conto de literatura oral dos bosquímanos, povo do deserto do Kahahari;

• “Histórias africanas para contar e recontar”, também de Rogério Andrade Barbosa e ilustrações de Graça Lima, publicado pela Editora do Brasil, em 2001.

• Coleção Árvore Falante, publicado pela Editora Paulinas: ◦ “Contos africanos para crianças”, de Rogério Andrade Barbosa, ilustrações de Maurício Veneza, 2004; ◦ “Outros contos africanos para crianças brasileiras”, de Rogério Andrade Barbosa, ilustrações de Maurício Veneza, 2006; ◦ “Ulomma: a casa da beleza e outros contos”, do autor nigeriano Sunday Ikechukwu Nkeechi, ilustrado por Denise Nascimento (2006); ◦ “Sua magestade, o elefante”, de Luciana Savaget, ilustrações de Rosinha campos; ◦ “Histórias trazidas por um cavalo marinho”, Edimilson de Almeida Pereira (2005).

• “Gosto de África: histórias de lá e daqui”, de Joel Rufino dos Santos, ilustrado por Cláudia Scatamacchi e publicado pela Global, em 1998 (com a 4ª edição em 2005): traz “mitos, lendas e tradições negras”, alternando o cenário africano e brasileiro.

• “Era uma vez na África”, de Jean Angelles e Gleydson Caetano (ilustrador), publicado pela LGE, em 2006, traz “adaptação de fábulas e histórias do folclore africano”.

• “O Baú das histórias: um conto africano recontado e ilustrado por Gail E. Haley”, da Global (2004);

• “Bruna e a galinha D´Angola”, de Gercilga de Almeida, com ilustrações de Valéria Saraiva, publicada pela EDC e Pallas, em 2000, que se destaca pelas belíssimas ilustrações;

• “Sikulume e outros contos africanos”, uma adaptação de Júlio Emílio Braz, ilustrado por Luciana Justiniani, publicado pela Pallas, em 2005;

• “Que mundo maravilhoso”, de Julius Lester & Joe Cepeda, traduzida por Gilda de Aquino e publicado pela Brinque-Book, em 2000;

• “Os comedores de palavras”, de Edimilson de Almeida Pereira e Rosa Margarida de C. Rocha, publicado pela Mazza, em 2004;

• Coleção Mama África, publicada pela Editora Língua Geral: ◦ “Debaixo do arco-íris não passa ninguém” - reune poemas escritos a partir de canções, provérbios e adivinhas da tradição oral dos povos nganguela, tchokwé e bosquímano (de Angola), escrito por Zetho Cunha Gonçalves e ilustrado por Roberto Chichorro, 2006; ◦ “O filho do vento”, de José Eduardo Água Lusa e Antônio Olé (ilustrador), 2006. ◦ “O homem que não podia olhar para trás”, de Nelson Saúte e Roberto Chichorro (ilustrador), 2006; ◦ “O beijo da palavrinha”, de Mia Couto e Malangatana (ilustradora), 2006;



Obras que abordam aspectos diversos da religiosidade de matriz africana:

• “Iansã: a deusa da guerra”, de Fábio Lima e Thiago Hoisel (ilustrador), publicado pela EDUNEB, 2006;

• Trilogia “Mitologia dos Orixás para Crianças e Jovens”, publicada pela Companhia das Letrinhas, com textos de Reginaldo Pranti e ilustrações de Pedro Rafael. Reginaldo Pranti é professor de sociologia da USP e escritor premiado pelo Ministério da Cultura, CNPQ e SBPC, por sua contribuição à preservação da cultura afro-brasileira. ◦ “Ifá, o adivinho: histórias de deuses africanos que vieram para o Brasil com os escravos” (2002): primeiro livro da trilogia, recebeu o prêmio de Melhor Livro Reconto, pela Fundação Nacional do Livro Infantil, e Juvenil – FNLIJ, em 2003; ◦ “Xangô, o trovão: outras histórias dos deuses africanos que vieram para o Brasil com os escravos” - (2003); ◦ “Oxumaré, o arco íris: mais histórias dos deuses africanos que vieram para o Brasil com os escravos” - (2004). Obras que apresentam histórias diversas, envolvendo cenário e personagens africanos, no passado e no presente:

• “Doce princesa negra”, de Solange Cianni e Felipe Massa Fera (ilustrador), publicado pela LGE, em 2006 (Série “Orgulho da raça”);

• “Os sete novelos de Kwanzaa”, de Ângela Shelf Medearis e Daniel Minter (ilustrador), publicado pela Cosac Naify, em 2005;

• “As tranças de Bintou”, de Sylviane Diouf e Shane W. Evans (ilustrador), publicado pela Cosac Naify, em 2004;

• “A África, meu pequeno Chaka”, de Marie Sellier e Marion Lesage, traduzido por Rosa Freire D´Águiar, publicado por Cia. Das Letrinhas, em 2006;

• “Meu avô, um escriba”, de Oscar Guelli, ilustrado por Rodval Matias, publicado pela Ática, em 2006, que traz a história de uma menino egípcio, educado por seu avô para ser um escriba;

• “Amkoullel, o menino Fula”, de Amadou Hampatê Ba, tradução de Xina Smith Vasconcelos, publicado pela Casa das Áfricas e Pallas Athena, em 2003, que conta a história de um menino que vive na região das savanas, ao sul do Saara, e se transforma em mestre da história oral e especialista no estudo das sociedades negras africanas das Savanas;

INFLUÊNCIAS DA MUSICA IORUBANA NO BRASIL

    A música ioruba teve grande influencia na música brasileira, principalmente nas canções de Gilberto Gil e Caetano Veloso. Essas músicas falam principalmente dos ancestrais africanos, segundo diz Gil.

    Estas músicas foram compostas em uma fase mais madura dos dois membros do movimento tropicalista, principalmente a partir de 1975, quando Gil ''sobrecarrega'' suas músicas de influências da música negra, principalmente, ou na maioria das vezes com a presença do reggae music.  

     Alguns discos que contem essas marcas: 
     - Gil e Jorge - Ogum - Xangô (1975)
     - Gilberto Gil - Refavela (1977)
     - Gilberto Gil - Realce (1979)
     - Gilberto Gil - Raça Humana (1984)

    Escute, aprecie e aproveite:

Gilberto Gil - Baba Alapalá


Oju Obá - Gilberto Gil

Caetano Veloso - Milagres Do Povo



REFERÊNCIAS

GIORDANI, Mário Curtis. História da África: anterior aos descobrimentos. 5ª ed. Petrópolis: Vozes, 2007.

História geral da África, V: A África do século XVI ao XVIII/ editado por Bethwell Allan Ogot. Cap. 15. Do Delta do Níger aos Camarões: os fon e os ioruba. Brasília: UNESCO, 2010 pág. 519-540.

MAESTRI, Mário. História da África negra pré-colonial. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1988.

OLIVA, Anderson Ribeiro. A invenção dos iorubás na África Ocidental. Reflexões e apontamentos acerca do papel da história e da tradição oral na construção da identidade étnica. In: Estudos Afro-Asiáticos, Ano 27, nos 1/2/3, Jan-Dez 2005. Disponível em: http://www.joaoferreiradias.net/wp-content/uploads/2012/02/A-inven%C3%A7%C3%A3o-dos-iorub%C3%A1s-na-%C3%81frica-Ocidental.pdf.

PRANDI, Reginaldo. O Candomblé e o Tempo. Concepções de tempo, saber e autoridade da África para as religiões afro-brasileiras. RBCS Vol. 16 n. 47 outubro/2001.

SILVA, Alberto da Costa e. A enxada e a Lança: A África antes dos portugueses. 5.ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2011.

THORNTON, John K. A África e os africanos na formação do mundo atlântico (1400 1800). Tradução Marisa Rocha Morta. Rio de Janeiro: Elsivier, 2004.

SILVA, Kalina Vanderlei; SILVA, Maciel Henrique. Dicionário de Conceitos Históricos. 2.ed. 1ª reimpressão. São Paulo: Contexto, 2008.

BREVE RESUMO HISTÓRICO

    De acordo com os apontamentos e pesquisas realizadas por historiadores, linguistas e arqueólogos existem pelo menos duas possibilidades explicativas acerca das origens dos iorubás na África Ocidental. Eles teriam se formado do encontro, na região florestal do Golfo da Guiné, de populações já estabelecidas na região, antes do primeiro milênio da Era cristã, provavelmente os ibos, com povos emigrados do centro-nordeste africano, que ali chegaram por volta dos séculos IX e X.

    Outros estudiosos optam pela possibilidade da articulação entre populações da própria África Ocidental, algumas habitantes multisseculares das regiões florestais e outras oriundas da área de savanas mais ao norte, que teriam se influenciado ou mesclado. Para esse segundo encontro a data mais provável seria o período referente aos séculos XIV e XV.

    De acordo com o historiador africano Joseph Ki-Zerbo, a migração teria ocorrido inicialmente da região do Alto Nilo – nordeste africano - para a África Ocidental, em vagas sucessivas a partir do século VI até o século XI. Após se estabeleceram no Golfo da Guiné, um outro centro difusor ganharia destaque a partir da área da cidade de Ilé Ifé, advindo daí sua influência religiosa e política em grande parte da área (Ki-Zerbo, 1980: 202).

    Muitos acreditam que mudanças na forma de organização política – a inclusão da monarquia de direito divino, no século XIV, e a expansão do poder político-econômico de Oyo, a partir do século XVII – podem ter tido significativa influência na tradição oral da região que, com seu corpo de agentes profissionais esforçou-se para adaptar as mudanças às já seculares tradições narrativas e explicativas da história daquelas populações. Porém, para além dessas influências é quase certo que as populações de língua iorubá se encontram no Golfo da Guiné desde o final do primeiro milênio.


CANDOMBLÉ

    Assim como no passado, a religiosidade ainda, é muito importante nas regiões africanas de origem ioruba. Na américa, algumas religiões desenvolveram-se influenciadas pelas tradições iorubas, convivendo com práticas religiosas cristãs. Esse é o caso do candomblé, no Brasil, e da santeria, em Cuba.

    As religiões afro-brasileiras, foram constituídas a partir de tradições africanas trazidas pelos escravos. O candomblé é a religião dos orixás formada na Bahia, no século XIX, a partir de tradições de povos iorubás, ou nagôs, com influências de costumes trazidos por grupos fons, aqui denominados jejes, e residualmente por grupos africanos minoritários.

    O candomblé iorubá, ou jeje-nagô, como costuma ser designado, congregou, desde o início, aspectos culturais originários de diferentes cidades iorubanas, originando-se aqui diferentes ritos, ou nações de candomblé, predominando em cada nação tradições das cidades ou região que acabou lhe emprestando o nome: queto, ijexá, efã. Esse candomblé baiano, que proliferou por todo o Brasil, tem sua contrapartida em Pernambuco, onde é denominado xangô, sendo a nação egba sua principal manifestação, e no Rio Grande do Sul, onde é chamado batuque, com sua nação oió-ijexá.

    Outra variante iorubá, esta fortemente influenciada pela religião dos voduns daomeanos, é o tambor-de-mina nagô do Maranhão. Além dos candomblés iorubás, há os de origem banta, especialmente os denominados candomblés angola e congo, e aqueles de origem marcadamente fom, como o jeje-mahim baiano e o jeje-daomeano do tambor-de-mina maranhense.

    Foram principalmente os candomblés baianos das nações queto (iorubá) e angola (banto) que mais se propagaram pelo Brasil, podendo hoje ser encontrados em toda parte. O candomblé angola, embora tenha adotado os orixás, que são divindades nagôs, e absorvido muito das concepções e ritos de origem iorubá, desempenhou papel fundamental na constituição da umbanda, no início do século XX, no Rio de Janeiro e em São Paulo.

    Hoje, todas essas religiões e nações congregam adeptos que seguem ritos distintos, mas que se identificam, nos mais diversos pontos do país, como pertencentes a uma mesma população religiosa, o chamado povo-de-santo, que compartilha crenças, práticas rituais e visões de mundo, que incluem concepções da vida e da morte. Terreiros localizados nas mais diferentes regiões e cidades interligam-se através de teias de linhagens, origens e influências que remetem a ascendências que convergem, na maioria dos casos para a Bahia, e que daí apontam, no caso das nações iorubás, para antigas e, às vezes, lendárias cidades hoje situadas na Nigéria e no Benim.





OS ORIXÁS- ORISSÁ



    Orissá ou orixá significa a luz da cabeça. Para os iorubás, os orixás são potências cósmicas que regem os poderes dos elementos da natureza. Elementos que constituem nosso organismo e todos os reinos da natureza e que tudo mantém e de onde tudo provem. O orixá é uma força pura, imaterial que atua em várias dimensões e se torna perceptível quando incorpora em um ser humano. São os regentes das energias do planeta e para entrar ou sair da Terra é preciso a autorização deles. Constituem hierarquias de elementais que zelam pela vida manifestada na Mãe-Terra. Eles adotam os seres humanos quando suas almas estão prontas para encarnar na Terra e os protegem vigilantes durante toda a existência.

    Os mitos, as lendas e definições dos orixás podem variar de região para região, mas todas as narrativas coincidem quanto a fé na atuação deles como divindades administradoras do equilíbrio e da preservação da vida no mundo terrestre. Divindades que estão encarregadas pelo Princípio Supremo, Olodumare, da manutenção de sua criação no Ilê, o mundo natural, e constituem a energia emanada da e pela Mãe-Terra para o Cosmo e vice-versa. Alguns seres, devido as suas qualidades morais e habilidades, podem se tornar orixás; nesses casos, geralmente escolhem um descendente como veículo para se manifestar. No Brasil o culto é prestado a 16 orixás prioritários; segundo os iorubás, eles são os diferentes aspectos da divindade única. Alguns deles excepcionalmente podem ser manifestações desses primordiais, e ter sido seres humanos que atingiram o estado divino em vida, e por amor retornam para ajudar sua família e comunidade.


    No Brasil, os iorubás e sua cultura predominam na estrutura das cerimônias, na mitologia e metafísica, embora outras etnias ainda permaneçam fiéis e atuantes, cultuando suas crenças, como o culto aos Egungun (os ancestrais) que acontece principalmente na Ilha de Itaparica, na Bahia. Os orixás são arquétipos universais, personificam virtudes e valores fundamentais desta tradição. Eles constituem os fundamentos do caráter desse povo que transmite sua sabedoria oralmente atravez das lendas contadas com reverência e amor de coração a coração, da boca amorosa para o ouvido amoroso. Para os iorubás, a Mãe-Terra é um ser vivo e sagrado. Plantar, perfurar um poço para obter água limpa, ou outro tipo qualquer de intervenção no solo do planeta, é precedido de um ritual para obter permissão e perdão pela agressão feita ao corpo da Mãe-Terra. Eles agradecem cantando e dançando pela obtenção da licença e pelos resultados positivos das suas ações. Os orixás estão presentes no cotidiano dos fiéis, no trabalho e nos fatos mais corriqueiros da vida. Simbolicamente, a morada e regência de cada orixá é um elemento e uma qualidade, um valor, e cada expressão da natureza é compreendida como um sinal mágico. Para os iorubás a natureza oferece os indicadores abençoados pelos orixás. Cada orixá tem sua cor, égide, pedra, dia da semana, dança, canto, saudação, animal consagrado, comida, objetos de oferenda, filiação, função e lugar de poder.



ORIXALÁ ou OBATALÁ - Divindade da criação, o nome da divindade suprema. Também conhecido como Olodumare ou Orumilá.


IFÁ - O senhor dos mistérios divinatórios. O porta-voz de Orumilá, ou Olodumare, o deus supremo, que está inacessível aos homens e fora da compreensão humana. Ifá é consultado e Olodumare (ou Orumilá) revela seus desígnios através do “opelê” um tipo de rosário divinatório que somente os sacerdotes podem consultar. As sacerdotisas consultam os búzios cujo jogo divinatório é regido por Oxum, uma deusa. Outro nome do deus supremo é Olorun, o senhor dos céus.


EXU – O mensageiro dos deuses. Ele é o traço de união entre os homens, os orixás e Olorum. Exu é assistente direto do deus supremo e assessora Ifá nas consultas ao “opelê”, e no jogo de búzios inspira a ialorixá (sacerdotisa) e leva as consultas diretamente aos orixás, trazendo para ela as respostas dos deuses. É o mensageiro entre as dimensões mundanas e sagradas e o guardião dos templos, das casas, das cidades e das pessoas. É o intermediário entre os seres humanos e os deuses e por isso é homenageado em primeiro lugar nos cultos. Ele garante que os obstáculos para o bom andamento das cerimônias sejam removidos. Esse orixá teve por parte dos colonizadores uma interpretação incorreta que permanece ainda hoje repercutindo negativamente e prejudicando a compreensão e aceitação desta tradição. Ele não é a incorporação do mal, pois a noção do diabo, da corporificação do mal não existe entre os iorubas. Exu é a força que cria novas ordens e que abre caminhos para possibilidades.


OXOSSI - O senhor das florestas, o provedor da caça, pesca e da fartura de modo geral. É o orixá da generosidade, da amabilidade, companheirismo e determinação. Como Odé, um dentre seus aspectos mais misteriosos e secretos, é o oculto, o conhecedor das raízes e dos segredos das profundezas da Terra. Oxossi é a força que orienta a organização da vida comunitária e a produção agrícola nas aldeias. Oxossi agrega as pessoas e confere qualidade a convivência comunitária.


OGUM - O senhor da guerra, guerreiro do divino combate interior entre o certo e o errado, a luz e as trevas. Ajuda na superação dos defeitos comportamentais e dos vícios prejudiciais a saúde e a elevação do espírito. Irmão de Exu, abre caminhos para o novo, vence demandas contra as negatividades e auxilia na realização de projetos, eliminando dificuldades eventuais. Ogum é temperamental e intempestivo e tem como principal desafio vencer a si mesmo.


OXUM - A deusa-mãe das águas doces, a Grande Mãe. Sua energia de potencializa nas nascentes e cachoeiras. Éo princípio feminino que se apresenta como cuidado amoroso, beleza, graça, harmonia, doçura, prosperidade e abundância. Promove a fartura e a fertilidade e protege a maternidade e as crianças. É também a deusa do amor e do ouro.


IEMANJÁ - A deusa-mãe das águas salgadas. Sua energia se potencializa nos mares e oceanos. É o princípio feminino que se apresenta como beleza, impetuosidade, poder, mutabilidade, exuberância, acolhimento, fascínio, imprevisibilidade, criatividade e força transformadora e renovadora da vida. Protege os homens do mar, a pesca, a família, o amor entre os casais. É a deusa que reina desde as profundezas e dos mistérios abissais.


OXALÁ - O orixá responsável pela totalidade da criação de Olodumare. A ele foi confiada a tarefa de formar a humanidade. Ele representa a sabedoria dos mais velhos, a ponderação, a pureza, o respeito, a paciência e a perseverança. Protege os puros de coração. Seu elemento é o éter. É um orixá fun-fun, ou seja tudo que se refere a ele e é a ele oferecido tem que ser branco e imaculado.


XANGÔ - A realeza, o poder de decisão, a firmeza e a força do caráter. É o senhor da justiça e da liderança a serviço do Bem. Rege os negócios e os assuntos de estado. Protege os governantes e líderes em geral. Manifesta-se na natureza como os trovões e raios, símbolos do seu poder. Xangô é a beleza masculina e sua força física e moral atrai as mulheres de maneira irresistível. Seus filhos espirituais trazem suas características e expressam suas qualidades.


OSSAIN - O Senhor das Folhas. Manifesta-se como o poder dos sons da floresta e principalmente como o poder que se oculta nas ervas e folhas sagradas e curativas. Não há candomblé sem folhas e para que elas permaneçam vivas e poderosas Ossaim precisa ser louvado. É o senhor da medicina que cura o corpo, a mente e a alma. É um dos mais misteriosos dentre os deuses iorubá.
OBALUAIÊ - O Senhor das doenças e da cura. Ele revela a fragilidade humana, a instabilidade e a necessidade dos seres vivos de estar em harmonia com as forças da natureza para permanecer saudável. Ele se apresenta também como o curador do físico e das moléstias em geral, e das afecções de pele em especial. É o orixá protetor e provedor do equilíbrio que gera a saúde. Quando irado, provoca epidemias e morte. Ele tem poder sobre a vida e a morte. Seu nome significa O Senhor da Terra, Shapanam.


OXUMARÊ - É o deus da dualidade e da alternância entre os opostos na manifestação da vida. Ele é o sustentador do equilíbrio das forças naturais e da renovação. É representado pelo arco-íris que liga o céu e a Terra. Um dos seus símbolos é a serpente enrolada que ao se desenrolar une o profano e o sagrado. Oxumarê ensina a humanidade a jogar o jogo da vida, a lidar com as perdas e os ganhos. É também o orixá portador de alegria e transformação.


LOGUNEDÊ - O Senhor da síntese – a complementaridade. Manifesta-se como homem e como mulher alternadamente. Durante seis meses é feminino e nos outros seis meses é masculino. Ele representa a união das polaridades, homem e mulher, certo e errado, luz e trevas, bem e mal. Corpo e espírito. ele é a superação dos pares de opostos.


IROKO - O Senhor de todos os aspectos do tempo. Apresenta-se como uma árvore frondosa, a gameleira branca. Seus filhos o homenageiam com devoção, mas este orixá não incorpora nos fiéis; ele permeia tudo, cria e destrói todas as coisas. A gameleira tem raízes profundas na Terra, mas se dirige ereta para o céu; ela nos ensina que durante seu tempo de vida o ser humano deve estar na Terra sem se esquecer do céu de onde se origina. Iroko ensina também o uso adequado do tempo mostrando que o tempo não passa, é eterno; quem passa somos nós, as coisas e a natureza.


INHASÃ, OYÁ – A rainha de OYÓ, a senhora dos ventos. O princípio feminino transgressor do estabelecido e provedor da coragem, autoconfiança, auto-estima, dedicação, também da iniciativa e estratégia de superação dos obstáculos aos propósitos grandiosos. É a deusa que conduz as almas dos mortos do sofrimento à paz eterna e afasta os espíritos perturbadores. Dançando freneticamente, agitando com as mãos um rabo de leão, ela livra seus protegidos dos males do espírito.


OBÁ - A divina e destemida guerreira defensora das causas nobres. Combate em favor dos menos favorecidos pela sorte. Os rejeitados, os traídos e humilhados contam com a proteção de Obá, a poderosa deusa justiceira. É o feminino destemido que reivindica igualdade de direitos entre homens e mulheres. Manifesta-se nas águas revoltas da confluência entre os rios.


NANÃ BURUKU ou BURUQUÊ - O princípio feminino que se apresenta como a anciã sábia, o poder ancestral que engendrou as formas humanas amassando o barro com seus próprios pés. A senhora das águas profundas e dos pântanos. É o mais alquímico dos orixás; representa o poder transmutador da natureza. Ela é um orixá originário da idade anterior ao ferro e cultuada principalmente no Daomé.


IBEJI – Orixás-crianças. Regem a alegria, a descontração, a espontaneidade, a leveza, o entusiasmo, a capacidade de se deslumbrar, a curiosidade e a vontade de aprender. Manifestam-se nos adeptos como a criança interior de cada um dos seres humanos.

Olodumare – O Deus Supremo


    A religião dos orixás é um culto às forças cósmicas e telúricas; é uma forma de culto familiar e comunitário. Embora seja basicamente uma religião tribal e da natureza, também reverencia os espíritos dos ancestrais que por suas qualidades morais foram divinizados e integrados às hierarquias de elementais que constituem as energias do planeta, possuindo por isso um axé (força mágica) poderoso. É uma religião de aceitação e tolerância, onde não existem preconceitos, dogmas, proselitismo ou doutrinação. 

    Para os iorubás, acima dos orixás está Olodumare, o deus supremo, que paira sobre tudo e todos e contém em si mesmo tudo e todos. Esse deus representa o poder infinito do universo; é inacessível, e está muito além da compreensão humana. Não é cultuado nem incorpora nos adeptos, mas é o mais respeitado, pois é o criador inacessível de tudo que existe, inclusive dos orixás. 

    Quando resolveu criar a humanidade, Olodumare criou primeiro os orixás e a eles confiou a supervisão de sua obra. Portanto, para chegar a Olodumare é aos orixás que os homens devem recorrer, reverenciar e dirigir suas preces e oferendas. 

    Olorun é o nome dado ao governante do “orun” que é uma dimensão intermediária entre o universo superior de Olodumare e a Terra (Ilê). Orun é um lugar muito sagrado e reverenciado porque é lá que habitam as almas dos mortos. No orun as almas aguardam a hora de voltar periodicamente ao mundo dos vivos para renascer. 

    Para os iorubás tanto a vida quanto a morte são etapas sagradas e ao oferecer sacrifícios aos seus orixás eles consagram tanto a Terra quanto o céu, afirmando essa crença. Eles acreditam que os animais imolados e ofertados durante o sacrifico têm a oportunidade de evoluir como energia consciente. 

    Como vemos, a mitologia desta tradição é altamente sofisticada e sutil na apresentação dos seus mitos, rituais e arquétipos.

REFERÊNCIA:
Mitologia comentada. Disponível em: <http://mitologiacomentada.blogspot.com.br/p/ioruba.html> Acesso em 10 de junho de 2014.

A CULTURA E A MEMÓRIA DAS SOCIEDADES IORUBANAS

    A cultura abrange todas as realizações materiais e os aspectos espirituais de um povo, é tudo aquilo produzido pela humanidade, seja no plano concreto ou no plano imaterial, desde artefatos e objetos até ideias e crenças, é também todo complexo de conhecimentos e toda habilidade humana empregada socialmente.

    Cultura é o conjunto de práticas, de técnicas, de símbolos e de valores que devem ser transmitidos às novas gerações para garantir a convivência social. Os velhos são os depositários da cultura viva do povo e a convivência com eles é a única maneira de aprender o que eles sabem. Os velhos são os sábios e a vida comunitária depende decisivamente de seu saber, de seus mistérios. O ancião detém o segredo da tradição. Sua palavra é sagrada, pois é a única fonte de verdade.

    Os iorubás só conheceram a escrita com a chegada dos europeus. Assim, todo o conhecimento tradicional baseia-se na oralidade. Mitos, fórmulas rituais, louvações, genealogias, provérbios, receitas medicinais, encantamentos, classificações botânicas e zoológicas, tudo é memorizado. Tudo se aprende por repetição, e a figura do mestre, acompanha, por muito tempo a vida dos aprendizes. 

    Segundo Jacques Le Goff, a memória é a propriedade de conservar certas informações, propriedades que se refere a um conjunto de funções psíquicas que permite ao indivíduo atualizar impressões ou informações passadas, ou reinterpretadas como passados. A forma de maior interesse para os historiadores é a memória coletiva, composta pelas lembranças vividas pelo individuo ou que lhe foram passadas, mas que não lhe pertencem somente, e são entendidas como propriedade de uma comunidade, ou grupo. 

    Nas sociedades sem escrita atitude de lembrar é constante, e a memória coletiva confunde história e mito. Para os iorubás e outros povos africanos, antes do contato com a cultura europeia, os acontecimentos do passado estão vivos nos mitos, que falam de grandes acontecimentos, atos heroicos, descobertas e toda sorte de eventos dos quais a vida presente seria a continuação. Ao contrário da narrativa histórica, os mitos nem são datados nem mostram coerência entre si, não existindo nenhuma possibilidade de julgar se um mito é mais verossímil, digamos, do que outro.

                      

    A memória coletiva fundamenta a própria identidade do grupo ou comunidade, mas normalmente tende a se apegar a um acontecimento considerado fundador simplificando todo o restante do passado. Por outro lado ela também simplifica a noção de tempo, fazendo apenas grandes diferenciações entre o passado (“nossos dias”) e o passado (“antigamente”, por exemplo). Cada mito atende a uma necessidade de explicação tópica e justifica fatos e crenças que compõem a existência de quem o cultiva, o que não impede de haver versões conflitantes quando os fatos e interesses a justificar são diferentes. O mito fala do passado remoto que explica a vida no presente. O tempo mítico é apenas o passado distante, e fatos separados por um intervalo de tempo muito grande podem ser apresentados nos mitos como ocorrências de uma mesma época, concomitantes. 

    Esse passado remoto, de narrativa mítica, é coletivo e fala do povo como um todo. Passado de geração a geração, por meio da oralidade, é ele que dá o sentido geral da vida para todos e fornece a identidade grupal e os valores e normas essenciais para a ação naquela sociedade, confundindo-se plenamente com a religião. O tempo cíclico é o tempo da natureza, o tempo reversível, e também o tempo da memória, que não se perde, mas se repõe. O tempo do mito e o tempo da memória descrevem um mesmo movimento de reposição: sai do presente, vai para o passado e volta ao presente - não há futuro.

    A religião é a ritualização dessa memória, desse tempo cíclico, ou seja, a representação no presente, através de símbolos e encenações ritualizadas, desse passado que garante a identidade do grupo - quem somos, de onde viemos, para onde vamos? É o tempo da tradição, da não-mudança, tempo da religião, a religião como fonte de identidade que reitera no cotidiano a memória ancestral.

INFLUÊNCIAS DE IFÉ E OYO

    Primeiramente surgiu o problema da concordância entre as tradições orais e os dados arqueológicos sobre as origens dessas comunidades. Tal problema remete principalmente às tradições que fizeram de Ilê-Ifé o centro da formação e a origem de todos os reinos ioruba, o lugar onde chefes recebiam a coroa ornada de pérolas.


    Um ponto importante é o avanço militar e político do Oyo, sobre o qual alguns estimam a coexistência com a autoridade espiritual dos oni de Ifé, sobre o conjunto do país Ioruba. O Oyo tornou-se o detentor do poder ioruba nas zonas setentrionais e ocidentais da região. O Oyo também manteve relações estreitas e diretas com os nupe e os borgu, respectivamente chamados pelos iorubas de tapa e ibariba, e, ao que parece, também mantinha relações com os haussas e, através desses, com o comércio transaariano.

    Apesar das relações de submissão religiosa à Ifé ou do certo poder político alcançado por Oyo, os reinos permaneceram ao longo de todas suas histórias. Mesmo que em certos momentos alguns deles se aliassem, fossem dominados ou colocados sob a influência econômica, militar, religiosa ou política de outro, a existência de um único e grande reino ou império iorubá, na forma de uma união territorial entre as várias cidades das áreas dominadas ou governadas por Oyo e Ifé, nunca ocorreu.

    Desses dois reinos é inegável a influência territorial ou política exercida por Oyo, a partir do século XVII e ao longo do XVIII. Alguns historiadores ou cronistas chegam a falar na existência de um império de Oyo, que se de fato pode ser assim chamado, não chegou a dominar todos os reinos iorubás, e o que não nos permite falar na existência de um império iorubá.

    O Oyo não só se tornou o mais importante dos reinos ioruba, como também apresentou características particulares. A cidade de Oyo, ao norte de Ifé, tem suas origens localizadas entre os séculos XI e XIII. Seu fundador, segundo a mitologia iorubá, foi Oraniã - filho de dois pais, Ogum e Odudua -, que acabou por tornar-se seu primeiro rei. Um de seus primeiros reis teria sido Xangô – mais tarde transformado no orixá da justiça, senhor dos raios -, filho de Oraniã, e do qual descenderiam os demais reis de Oyo. A partir do século XVII ou XVIII, Oyo passou a ocupar um papel de preeminência política entre os iorubás, chegando a ser chamado de império.

    Essa ascendência deveu-se, entre outros motivos, ao desempenho econômico que a cidade conquistou a partir do século XV. Além de manter uma agricultura autossuficiente, assim como boa parte dos outros povos da região, ela se beneficiou de sua posição geográfica, acima da floresta, com terras melhor agricultáveis. Desenvolveu também um grupo de artífices de grande qualidade com relação à tecelagem e à metalurgia, o que possibilitou o fomento de importante atividade mercantil. Neste caso, a ação comercial de Oyo serviu como um elo de comunicação da região ao sul da floresta com o Sudão, ao norte. Tal atividade foi incrementada com a compra de cavalos pelos comerciantes da cidade, uma vez que o animal não era reproduzido na região devido à infestação pelas moscas Tsé-Tsé. Com a aquisição desses animais, foi possível a montagem, por parte dos Alafins, chefes ou reis de Oyo, de uma poderosa cavalaria. Tal fato possibilitou uma vantagem militar fundamental para a expansão da influência de Oyo por quase toda área circunvizinha à cidade, principalmente, a partir do século XVII.

    No campo das forças armadas, a supremacia do Oyo devia-se, provavelmente, ao emprego de cavaleiros e arqueiros, inspirados pelos contatos muito precoces com o comércio transsaariano e com os Estados do Norte, mais ou menos contemporâneos ao avanço de Songhai, no século XIV. O Oyo pôde, sem dúvida, conseguir cavalos, potassa, sal em pedra, dentre outros produtos do Norte, exportando nozes-de-cola, manteiga de karité e outros produtos extraídos das palmeiras. Tais contatos exteriores, da mesma forma que o fato de estar situado na savana, lhes permitiram modificar os conceitos partilhados com os outros reinos iorubas. Por exemplo, a instauração do Xangô (ou culto ao trovão), no seio do sistema religioso, é uma inovação que lhes é própria. O nascimento do Oyo está ligado ao Ifé e ao Benin, pois que seu fundador, o legendário Oranyan (Oranmiyan) teria reinado simultaneamente no Ifé e no Benin antes de se voltar a Oyo. 

    Marcada inicialmente por um aspecto militarista, a expansão tornou-se posteriormente um elo entre política e economia. A relação com os outros reinos era estabelecida através das trocas comerciais, do pagamento de impostos e da ratificação, por parte do Alafin, dos nomes dos soberanos escolhidos pelos conselhos dos próprios reinos para governá-los. Quanto mais próximo de Oyo, maior era o controle exercido, apesar das cidades manterem formas de organização autônomas.

    Na esfera do político, Oyo, apresentava uma estrutura que, após o período de sua expansão, tornou-se uma espécie de modelo para outros reinos iorubás. Devido a isso, as cidades daquele território passaram a ter processos semelhantes no que se referia à escolha dos soberanos, à filiação original de suas dinastias e às formas de poder. No caso específico de Oyo, o Alafin (o rei), chamado de “companheiro dos deuses”, ficava no poder por, no máximo, 14 anos e era assessorado por um conselho de anciãos composto por sete membros. Esse conselho teve uma outra fundamental importância.

    Depois de alguns incidentes na sucessão da chefia do reino - quando os filhos dos soberanos antecipavam sua ascensão ao trono através de golpes ou assassinatos -, ele mudou a forma de escolha do sucessor, fazendo-a diretamente. Ao filho do chefe cabia, desde então, partir para o mundo celestial juntamente com o pai. Apesar de associado aos deuses, os Alafins não tinham imunidade contra os desacertos e desvios cometidos em suas administrações.

    Intervinham nessa decisão as lideranças dos bairros e das famílias de Oyo. No caso de Ifé, apesar de sua influência ter sido marcadamente no campo religioso- político, a cidade, antes do século XIX, possuía uma região de influência que se estendia por uma significativa área, relacionando diversos reinos-cidades à sua tutela religiosa. Estes, mais do que outros, deviam submissão ao Oni, chefe religioso e político de Ifé. Não só necessitavam submeter-se à sua legitimação, como também pagar, às vezes, alguns tributos. Por ser um descendente direto de Odudua, o Oni ocupava uma posição de destaque entre os líderes de outras cidades e chefias importantes, que a Odudua se filiavam.

    Sua influência, nesse sentido, foi tão relevante que o reino do Benin, localizado em terras ocupadas pelos Edos, dizia-se descendente de Odudua, já que do mesmo teria sido enviado para lá um de seus filhos, que governou a cidade durante algum tempo. Em parte, sua ascendência religiosa foi expressa pela arte das técnicas da cera perdida e das esculturas de bronze e terracota, encontradas também em outras cidades da região.

A INVENÇÃO DOS IORUBÁS

    Haviam diferenças entre os iorubás que eram tão evidentes que durante grande parte de suas trajetórias históricas eles não se identificam como iguais e nem com este termo. É bastante evidente que falar dos Iorubá é tão difícil quanto falar dos brasileiros, esquecendo a imensa diversidade que existe, como por exemplo os diferentes grupos religiosos, dos quais fazem parte os Nagô. 


    Era como se sempre tivesse existido, a partir do século X, uma identidade única entre os iorubás, era como se eles sempre tivessem se identificado como membros de um mesmo grupo. Porém, há algum tempo, estudiosos perceberam que a construção dessa identidade étnica foi fruto das pressões sofridas por alguns reinos-cidades presentes no Golfo da Guiné, do século XVIII em diante, e dos esforços dos próprios iorubás em se defender da ação escravagista de europeus e do reino do Daomé.

    Existem evidentemente certos elementos que permitiriam fazer a conexão de identidade entre vários reinos e cidades iorubás que ocupavam o território da atual Nigéria, principalmente por meio dos contatos estabelecidos com outras sociedades da região, mesmo que isso por muitas vezes pudesse representar mais um elemento diferenciativo entre os próprios iorubás. 


    Aspectos como os cosmológicos, a língua, a filiação à Odudua, as relações comerciais e outros padrões culturais levaram a uma tentativa de construir, principalmente a partir dos séculos XVIII ou XIX, a idéia de uma unidade e identidade iorubas.


segunda-feira, 9 de junho de 2014

RELIGIÃO E CULTURA IORUBÁ


    A religião dos povos iorubas se divide entre cristãos, islãs e os que reverenciavam apenas a religião ioruba e seus mitos. Os Iorubás tinham seu grande ponto religioso na cidade sagrada de Ifé que foi a primeira cidade ioruba e que tinha como chefe religioso, o Oni. Os iorubas viviam de uma crença religiosa muito grande, engrandecendo assim sua cultura. Ifé era consolidada como “umbigo do mundo” identificando culturalmente como origem de fonte mística, ali, diziam se encontrar pessoas sábias e cultas e sendo assim abasteciam-se de legitimidade de liderança. O fundador de Ifé, Oduduwa, afirmavam a maioria ter vindo da cidade sagrada de Meca, cidade a qual os muçulmanos oficializam como a mais sagrada.

    Nas outras cidades, os chefes que além do poder religioso, obtinham do militar e social eram chamados de Oba, menos a cidade de Oyo, capital da sociedade, que por se tratar de uma cidade que tinha forte poderio guerreiro tinha seu chefe chamado de Alafin, porém podia ser extinto seu poder pelos Oghoni, senado dos notáveis. Oyo manteve-se poderosa durante mais de cem anos.

    Culturalmente, os iorubas têm em sua história de muitas teorias discutem sua origem, dizem que desde o ano 1000 já constavam diversos reinos pertencentes à sociedade, e tenderam a aglomerar-se em várias cidades, pois tinham a realização política em uma base urbana. Falavam uma língua tradicional deles de preferência, que era um idioma niger-congo, qual era um idioma que cobria metade da África e era dividido em cinco ramos. O ramo dos iorubas era o Cua ou “Kwa”. Os bales, que em princípio eram chefes de linhagem poderiam se tornar futuros reis ou chefes de cidades, dependendo do Conselho de Notáveis. Há indícios também que mulheres chefiarem alguma cidade, más é certo que os quase sempre ocupavam esses cargos.

    Constituem de diferentes grupos e possuem um dom cultural muito grande, na música criam seus instrumentos musicais e nomeavam-nos, seus trabalhos artísticos refinados na cerâmica, argila e bronze eram usados na criação até de suas próprias moradias, possuindo uma beleza incondicional. 

    Logo após a expansão européia na África, e formação imperialista abastecendo de todas as sociedades africanas, até mesmo dos iorubas, a cultura da sociedade não desapareceu e pode ser levada adiante até mesmo no tempo da escravidão atlântica, com descendentes iorubas na Europa, Caribe e América do Sul, principalmente no Brasil. Na Bahia a culinária é muito bem reconhecida e a crença baiana dos orixás, candomblés e umbandas, se formaram com base na religião ioruba.

    Os iorubas no século XIX na África eram representados principalmente pelo areal cultural deles chamados também de nagô, é declarada como mais importante região Mono-Ninger, por englobar mais povos e ocupando espaços de países africanos importantes, como a Nigéria que era ocupada pelos oyos, porém a cidade de Oyo desapareceu como o incrível Reino de Benin, qual os iorubas tinham um encantamento diferenciado pelo grande poder comercial a qual esse reino exerceu na África séculos atrás.

    Mesmo os europeus destruindo as principais cidades e reinos da sociedade ioruba, a cultura prevaleceu, claro que muito mais fraca. Na Nigéria e em Gana os ingleses, e em Benin e Togo, os franceses, a qual tomaram posse com a expansão trouxeram a cultura de seus respectivos países a ser trabalhado com a população, seus costumes de educandos e na saúde foram acrescentados nos países qual os iorubas se encontravam em mais número, mesmo os europeus com sua crença racista, menosprezando e diminuindo os africanos.

A ARTE DOS IORUBÁS

    Os iorubas de Ifé e Benin são reconhecidos por suas excepcionais esculturas em bronze e terracota. Em Ifé, por exemplo, essas obras eram, em sua maioria, representações de cabeças de governantes e nobres. Segundo estudiosos, as esculturas de Ifé tem uma estreita ligação com a arte da antiga cultura nok.


    Poucas civilizações na África Subsariana são tão famosas pela sua arte e a sua cultura como a de Ife, antigo reino e terra natal do povo yoruba na Nigéria.

    Os seus artistas criaram uma obra escultórica única, que se conta entre as esteticamente mais prodigiosas e tecnicamente mais aprimoradas do continente negro.


    Técnica e visualmente, as obras de arte da antiga Ife contam-se entre as mais importantes do mundo. Incluem cabeças de tamanho natural e figuras humanas em terracota e bronze, vasos de cobre quase puro – uma façanha que, segundo os peritos, Gregos, Romanos e Chineses nunca conseguiram levar a cabo –, esculturas de quartzo e granito, peças em cobre, pedra e cristal, e também miniaturas de deliciosas representações de animais domésticos e selvagens em terracota e pedra, exemplares dos monumentais menires de granito, expressivas caricaturas de anciãos, figurações de doenças atrozes, monstruosas configurações imaginárias e vívidas figuras de animais.

    Trata-se de objetos de grande força visual, complexidade icónica e variedade de formas, que revelam a extraordinária mestria criativa e técnica dos artistas e o gosto dos mecenas e cidadãos de Ife.

    A sofisticação alia-se à audácia tecnológica e às notáveis qualidades estéticas e o resultado é uma visão do brilhantismo da civilização Ife, que possibilita a compreensão de preocupações culturais e da profunda importância da arte como testemunho histórico.

    A música e a dança sempre foram uma importante parte da cultura iorubá para aqueles que vivem na Nigéria bem como na diáspora. Iorubá música e dança são usadas para muitas ocasiões diferentes na vida tais como festas religiosas, ocasiões reais, e entretenimento. Iorubá música tradicional centra-se em ioruba divindade. Bateria e canto são os principais elementos de música iorubá. Instrumentos como sinos de metal e instrumentos de sopro são usados ​​às vezes.

ESTRUTURA POLÍTICO-SOCIAL

    Há uma grande dificuldade encontrada na terminologia a empregar se para exprimir as instituições da maior parte dos povos africanos. Os estudiosos distinguem de modo bem geral, três tipos de organização política em que se poderia enquadrar as sociedades africanas: as anarquias, as chefaturas e as hegemonias.
As anarquias são estruturas sociais sem comando político central obedecendo somente a costumes sancionados apenas pela religião ou pela moral. As anarquias africanas são sistemas notavelmente equilibrados, estáveis, flexíveis e coerentes.

    A chefatura inicia-se quando uma família com maior prestigio estende sua autoridade sobre os demais. A família dominante fundamenta sua preponderância na existência de um antepassado maios ou menos legendário, “as famílias asseguram-se com frequência a colaboração dos cronistas profissionais que conservam (ou inventam) a lembrança dos antepassados, fundam assim parte de sua autoridade sobre o monopólio da tradição, que sabem guardar para sempre.

    As hegemonias (estados, reinos ou império) se sobrepõem às chefaturas, trazendo com sigo uma hierarquia administrativa, um fisco e um exército. É certo que, em vários momentos algumas cidades estenderam suas hegemonias por um espaço maior do que o de suas fronteiras, porém não se deve pensar em um estado organizado e estruturado politicamente como foram os impérios de Mali e Songhai.
No caso Iorubá as próprias cidades, e algumas aldeias sob suas influências formavam aquilo que foi chamado de reino, ou seja, elas deveriam possuir suas próprias linhagens dinásticas e guardavam uma relativa autonomia política com relação as outras. Os Iorubás nunca chegaram a constituir um império centralizado, no qual uma cidade dominasse politicamente às outras.

    Primitivamente parece que o rei, símbolo e portador da vitalidade de seu povo era designado para um período de sete anos, septênio, que em última instância, podia renovar-se uma vez, mas que também era suscetível de ser abreviado em caso que as faculdades físicas e mentais do soberano diminuíssem, ameaçando com este desfalecimento a prosperidade de seu povo. Um conselho de anciãos, velhos ou notáveis, fazia-lhe então a entrega de uma taça que continha ovos de papagaio, comunicando-lhe que deveria suicidar-se, se fosse necessário prestavam-lhe auxilio. Isto representa um expediente que visava evitar a tirania, a arbitrariedade e a ambição insaciável e estabelecia um “absolutismo compensado”.

Foto: O Palácio de Oba, na cidade de Benin, antiga capital do reino Ioruba.

    Nas outras “cidades-reinos” iorubás existia um rei ou chefe local, chamado de oba, que deveria ter, muitas vezes, sua posição legitimada pelo Alafin, de Oyo, e pelo Oni, de Ifé. Em geral, a autoridade desses dois “reis sobre os outros chefes era apoiada no mito de criação da Terra por Odudua e a subseqüente dispersão de seus dezesseis filhos que criaram os outros reinos iorubás”. Como boa parte da sociedade era definida por linhagens patrilineares nas quais, a ligação originava-se das conexões dos laços de parentesco com as origens a partir de um ancestral divinizado a escolha da chefia da cidade se revestia de certa disputa entre as famílias que a ocupavam. Os bales, que eram, a princípio, chefes de linhagens, poderiam se tornar futuros reis ou chefes das cidades, dependendo da escolha do Conselho de Notáveis que era, na verdade, quem decidia o destino da sucessão local.


    Apesar de existirem relatos de chefias femininas em tempos imemoriáveis quase sempre eram homens os ocupantes desses cargos. Nesse aspecto, estabelecia- se outra marcante diferenciação da sociedade iorubá com relação à questão do gênero. Mesmo que as mulheres fizessem parte dos cultos religiosos, dos festivais anuais e de algumas atividades públicas, as principais funções religiosas e cargos políticos eram ocupados por homens, assim como a chefia das famílias, das linhagens e das cidades. No próprio clã, além do nome do ancestral, as mulheres recebiam outro, justamente para diferenciá-las dos homens.

    Constituíam sociedades tipicamente urbanas, tinham algumas das cidades mais populosas da África subsaariana. Com relação aos dados populacionais, os historiadores revelam que alguns núcleos urbanos da região atingiram dimensões de grande porte, com populações de milhares de pessoas.

    Cada uma dessas cidades (planejadas) era dividida em bairros governados por um chefe seccional, cada uma dessas cidades possuía os seus nichos sagrados, o seu palácio real, as suas praças de mercado, os seus lugares de reunião, onde o governo da cidade podia tratar dos seus assuntos e o povo discutir as novidades do dia. Cada uma delas tornara-se famosas pelos seus artífices, que trabalhavam em diversos ofícios.

ESTRUTURA ECONÔMICA

    Durante o momento de sua expansão, suplantada posteriormente por Oyo, Ifé tornou-se uma espécie de cidade modelo, da qual as cidades iorubás acabaram por copiar certas estruturas.

    Um elemento chave na vida dos iorubás, e que determinou em grande medida o ritmo da vida e das estruturas urbanas, foi a existência de uma considerável economia mercantil. Nesse sentido, as atividades comerciais ganhavam uma relevância significativa, já que a agricultura era basicamente de subsistência, e em algumas regiões, devido à maior ou menor influência da floresta, era uma atividade difícil de ser realizada, sendo, muitas vezes, complementada pela caça.

    Por isso, o comércio era essencial, inclusive para manter a dieta alimentar da população das cidades. Nestas desenvolveram-se escolas de artífices e escultores, além de uma categoria de experientes comerciantes. A própria estrutura das cidades iorubás revelava a importância da atividade mercantil, já que todas possuíam praças onde funcionavam mercados, que vendiam não só produtos locais, mas também os trazidos de outras regiões.


Foto: Comércio na cidade de Benin (Benin City)

    De uma forma geral esses núcleos urbanos se organizavam da seguinte maneira: Cada uma destas cidades era dividida em bairros governados por um chefe seccional. Cada uma das cidades possuía os seus nichos sagrados, o seu palácio real, as suas praças de mercado, os seus lugares de reunião, onde o governo da cidade podia tratar dos seus assuntos e o povo discutir as novidades do dia.

LOCALIZAÇÃO ESPACIAL E RECORTE TEMPORAL


    Os povos Iorubás desenvolveram-se na parte Ocidental do continente africano, na região onde atualmente ficam a Nigéria, o Benin e o Togo. Para a maioria dos pesquisadores, eles começaram a formar suas primeiras cidades nessa região entre os séculos IX e X, vindos do nordeste da África em várias levas migratórias.


    De acordo com especialistas em História da África Ocidental seria na passagem do século XVIII para o XIX que apareceriam os primeiros indícios da construção de uma identidade em comum entre os Iorubás. É evidente que muitas características das populações da área florestal do golfo da Guiné eram compartilhadas há muito tempo. Porém, o ato de se reconhecer e ser reconhecido como Iorubá só pode ser encontrado no final dos setecentos.

POVOS E LÍNGUAS

    Na África subsaariana encontramos a raça negra ou raça melano-africana. O domínio da raça melano-africana compreende a maior parte da África subsaariana. Encontram-se ai cinco “sub-raças” sudanesa (zona da pradarias e savanas que se estende entre a floresta equatorial e o Saara, do Senegal a Kordofan), guineense (ao longo do Golfo da Guiné), congolesa (na grande floresta equatorial que ela ultrapassa ao sul, ao longo dos afluentes do congo), nilótica (na zona dos pântanos e das pradarias da confluência Bahrel-Ghazal com o Nilo, entre Khartum ao norte, e o lago Vitória ao sul), Zambesiana (os povos negros que vivem ao sul do antigo Congo Belga entre Angola e o antigo sudoeste africano alemão a oeste, e o Oceano Indico a leste).

    Focalizando as migrações e as diferenciações étnicas e linguísticas, a raça negra do tipo conhecido como sudanês ou congolês individualizou-se para se adaptar as condições das latitudes tropicais, principalmente na África ocidental.


    Quanto ao número das línguas africanas deve-se observar que se estima a existência, no continente, de 1300 a 1500 idiomas classificados como língua. Uma observação que merece ser registrada é que quase todos os africanos, além de sua língua materna, usam uma segunda, como língua franca para o comércio de trocas.

    O idioma Iorubá integra o grupo linguístico nigero-congolês. O idioma falado pelos iorubas é o ioruba com 
variações de dialetos. Os iorubas eram formados por povos diferentes e independentes entre si mas que pertenciam a um grupo linguístico comum, esses povos tinham crenças religiosas semelhantes. As evidências linguísticas indicam entre outras coisas, a origem ocidental da língua ioruba, descendentes de famílias linguísticas do norte e leste africanos.

    A língua Iorubá atualmente, é falada por aproximadamente 22 a 30 milhões de pessoas. Ela é uma das três grandes línguas oficiais da Nigéria, porém, é falada também no Benin, Togo, Gana, Serra Leoa. No continente americano, o iorubá também é falado, sobretudo em ritos religiosos, como os ritos afro-brasileiros, onde é chamado de nagô, e os ritos afro-cubanos de Cuba (e em menor escala, em certas partes dos Estados Unidos entre pessoas de origem cubana), onde é conhecido também por lucumí).

    A escrita Iorubá apareceu primeiramente no século XIX. Quem mais contribuiu para a literatura Iorubá foi o Bispo Ajayi Crowhter (1806-1891) que estudou e traduziu diversas línguas da Nigéria.