terça-feira, 10 de junho de 2014

INFLUÊNCIAS DE IFÉ E OYO

    Primeiramente surgiu o problema da concordância entre as tradições orais e os dados arqueológicos sobre as origens dessas comunidades. Tal problema remete principalmente às tradições que fizeram de Ilê-Ifé o centro da formação e a origem de todos os reinos ioruba, o lugar onde chefes recebiam a coroa ornada de pérolas.


    Um ponto importante é o avanço militar e político do Oyo, sobre o qual alguns estimam a coexistência com a autoridade espiritual dos oni de Ifé, sobre o conjunto do país Ioruba. O Oyo tornou-se o detentor do poder ioruba nas zonas setentrionais e ocidentais da região. O Oyo também manteve relações estreitas e diretas com os nupe e os borgu, respectivamente chamados pelos iorubas de tapa e ibariba, e, ao que parece, também mantinha relações com os haussas e, através desses, com o comércio transaariano.

    Apesar das relações de submissão religiosa à Ifé ou do certo poder político alcançado por Oyo, os reinos permaneceram ao longo de todas suas histórias. Mesmo que em certos momentos alguns deles se aliassem, fossem dominados ou colocados sob a influência econômica, militar, religiosa ou política de outro, a existência de um único e grande reino ou império iorubá, na forma de uma união territorial entre as várias cidades das áreas dominadas ou governadas por Oyo e Ifé, nunca ocorreu.

    Desses dois reinos é inegável a influência territorial ou política exercida por Oyo, a partir do século XVII e ao longo do XVIII. Alguns historiadores ou cronistas chegam a falar na existência de um império de Oyo, que se de fato pode ser assim chamado, não chegou a dominar todos os reinos iorubás, e o que não nos permite falar na existência de um império iorubá.

    O Oyo não só se tornou o mais importante dos reinos ioruba, como também apresentou características particulares. A cidade de Oyo, ao norte de Ifé, tem suas origens localizadas entre os séculos XI e XIII. Seu fundador, segundo a mitologia iorubá, foi Oraniã - filho de dois pais, Ogum e Odudua -, que acabou por tornar-se seu primeiro rei. Um de seus primeiros reis teria sido Xangô – mais tarde transformado no orixá da justiça, senhor dos raios -, filho de Oraniã, e do qual descenderiam os demais reis de Oyo. A partir do século XVII ou XVIII, Oyo passou a ocupar um papel de preeminência política entre os iorubás, chegando a ser chamado de império.

    Essa ascendência deveu-se, entre outros motivos, ao desempenho econômico que a cidade conquistou a partir do século XV. Além de manter uma agricultura autossuficiente, assim como boa parte dos outros povos da região, ela se beneficiou de sua posição geográfica, acima da floresta, com terras melhor agricultáveis. Desenvolveu também um grupo de artífices de grande qualidade com relação à tecelagem e à metalurgia, o que possibilitou o fomento de importante atividade mercantil. Neste caso, a ação comercial de Oyo serviu como um elo de comunicação da região ao sul da floresta com o Sudão, ao norte. Tal atividade foi incrementada com a compra de cavalos pelos comerciantes da cidade, uma vez que o animal não era reproduzido na região devido à infestação pelas moscas Tsé-Tsé. Com a aquisição desses animais, foi possível a montagem, por parte dos Alafins, chefes ou reis de Oyo, de uma poderosa cavalaria. Tal fato possibilitou uma vantagem militar fundamental para a expansão da influência de Oyo por quase toda área circunvizinha à cidade, principalmente, a partir do século XVII.

    No campo das forças armadas, a supremacia do Oyo devia-se, provavelmente, ao emprego de cavaleiros e arqueiros, inspirados pelos contatos muito precoces com o comércio transsaariano e com os Estados do Norte, mais ou menos contemporâneos ao avanço de Songhai, no século XIV. O Oyo pôde, sem dúvida, conseguir cavalos, potassa, sal em pedra, dentre outros produtos do Norte, exportando nozes-de-cola, manteiga de karité e outros produtos extraídos das palmeiras. Tais contatos exteriores, da mesma forma que o fato de estar situado na savana, lhes permitiram modificar os conceitos partilhados com os outros reinos iorubas. Por exemplo, a instauração do Xangô (ou culto ao trovão), no seio do sistema religioso, é uma inovação que lhes é própria. O nascimento do Oyo está ligado ao Ifé e ao Benin, pois que seu fundador, o legendário Oranyan (Oranmiyan) teria reinado simultaneamente no Ifé e no Benin antes de se voltar a Oyo. 

    Marcada inicialmente por um aspecto militarista, a expansão tornou-se posteriormente um elo entre política e economia. A relação com os outros reinos era estabelecida através das trocas comerciais, do pagamento de impostos e da ratificação, por parte do Alafin, dos nomes dos soberanos escolhidos pelos conselhos dos próprios reinos para governá-los. Quanto mais próximo de Oyo, maior era o controle exercido, apesar das cidades manterem formas de organização autônomas.

    Na esfera do político, Oyo, apresentava uma estrutura que, após o período de sua expansão, tornou-se uma espécie de modelo para outros reinos iorubás. Devido a isso, as cidades daquele território passaram a ter processos semelhantes no que se referia à escolha dos soberanos, à filiação original de suas dinastias e às formas de poder. No caso específico de Oyo, o Alafin (o rei), chamado de “companheiro dos deuses”, ficava no poder por, no máximo, 14 anos e era assessorado por um conselho de anciãos composto por sete membros. Esse conselho teve uma outra fundamental importância.

    Depois de alguns incidentes na sucessão da chefia do reino - quando os filhos dos soberanos antecipavam sua ascensão ao trono através de golpes ou assassinatos -, ele mudou a forma de escolha do sucessor, fazendo-a diretamente. Ao filho do chefe cabia, desde então, partir para o mundo celestial juntamente com o pai. Apesar de associado aos deuses, os Alafins não tinham imunidade contra os desacertos e desvios cometidos em suas administrações.

    Intervinham nessa decisão as lideranças dos bairros e das famílias de Oyo. No caso de Ifé, apesar de sua influência ter sido marcadamente no campo religioso- político, a cidade, antes do século XIX, possuía uma região de influência que se estendia por uma significativa área, relacionando diversos reinos-cidades à sua tutela religiosa. Estes, mais do que outros, deviam submissão ao Oni, chefe religioso e político de Ifé. Não só necessitavam submeter-se à sua legitimação, como também pagar, às vezes, alguns tributos. Por ser um descendente direto de Odudua, o Oni ocupava uma posição de destaque entre os líderes de outras cidades e chefias importantes, que a Odudua se filiavam.

    Sua influência, nesse sentido, foi tão relevante que o reino do Benin, localizado em terras ocupadas pelos Edos, dizia-se descendente de Odudua, já que do mesmo teria sido enviado para lá um de seus filhos, que governou a cidade durante algum tempo. Em parte, sua ascendência religiosa foi expressa pela arte das técnicas da cera perdida e das esculturas de bronze e terracota, encontradas também em outras cidades da região.

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