Há uma grande dificuldade encontrada na terminologia a
empregar se para exprimir as instituições da maior parte dos povos africanos.
Os estudiosos distinguem de modo bem geral, três tipos de organização política
em que se poderia enquadrar as sociedades africanas: as anarquias, as
chefaturas e as hegemonias.
As anarquias são estruturas sociais sem comando político
central obedecendo somente a costumes sancionados apenas pela religião ou pela
moral. As anarquias africanas são sistemas notavelmente equilibrados, estáveis,
flexíveis e coerentes.
A chefatura inicia-se quando uma família com maior prestigio
estende sua autoridade sobre os demais. A família dominante fundamenta sua
preponderância na existência de um antepassado maios ou menos legendário, “as
famílias asseguram-se com frequência a colaboração dos cronistas profissionais
que conservam (ou inventam) a lembrança dos antepassados, fundam assim parte de
sua autoridade sobre o monopólio da tradição, que sabem guardar para sempre.
As hegemonias (estados, reinos ou império) se sobrepõem às
chefaturas, trazendo com sigo uma hierarquia administrativa, um fisco e um
exército. É certo que, em vários momentos algumas cidades estenderam suas
hegemonias por um espaço maior do que o de suas fronteiras, porém não se deve
pensar em um estado organizado e estruturado politicamente como foram os
impérios de Mali e Songhai.
No caso Iorubá as próprias cidades, e algumas aldeias sob
suas influências formavam aquilo que foi chamado de reino, ou seja, elas
deveriam possuir suas próprias linhagens dinásticas e guardavam uma relativa
autonomia política com relação as outras. Os Iorubás nunca chegaram a
constituir um império centralizado, no qual uma cidade dominasse politicamente
às outras.
Primitivamente parece que o rei, símbolo e portador da
vitalidade de seu povo era designado para um período de sete anos, septênio,
que em última instância, podia renovar-se uma vez, mas que também era
suscetível de ser abreviado em caso que as faculdades físicas e mentais do
soberano diminuíssem, ameaçando com este desfalecimento a prosperidade de seu
povo. Um conselho de anciãos, velhos ou notáveis, fazia-lhe então a entrega de
uma taça que continha ovos de papagaio, comunicando-lhe que deveria
suicidar-se, se fosse necessário prestavam-lhe auxilio. Isto representa um
expediente que visava evitar a tirania, a arbitrariedade e a ambição insaciável
e estabelecia um “absolutismo compensado”.
Foto: O Palácio de Oba, na cidade de Benin, antiga capital do
reino Ioruba.
Nas outras “cidades-reinos” iorubás existia um rei ou chefe
local, chamado de oba, que deveria ter, muitas vezes, sua posição legitimada
pelo Alafin, de Oyo, e pelo Oni, de Ifé. Em geral, a autoridade desses dois
“reis sobre os outros chefes era apoiada no mito de criação da Terra por Odudua
e a subseqüente dispersão de seus dezesseis filhos que criaram os outros reinos
iorubás”. Como boa parte da sociedade era definida por linhagens patrilineares nas
quais, a ligação originava-se das conexões dos laços de parentesco com as
origens a partir de um ancestral divinizado a escolha da chefia da cidade se
revestia de certa disputa entre as famílias que a ocupavam. Os bales, que eram,
a princípio, chefes de linhagens, poderiam se tornar futuros reis ou chefes das
cidades, dependendo da escolha do Conselho de Notáveis que era, na verdade, quem
decidia o destino da sucessão local.
Apesar de existirem relatos de chefias femininas em tempos
imemoriáveis quase sempre eram homens os ocupantes desses cargos. Nesse
aspecto, estabelecia- se outra marcante diferenciação da sociedade iorubá com
relação à questão do gênero. Mesmo que as mulheres fizessem parte dos cultos
religiosos, dos festivais anuais e de algumas atividades públicas, as
principais funções religiosas e cargos políticos eram ocupados por homens,
assim como a chefia das famílias, das linhagens e das cidades. No próprio clã,
além do nome do ancestral, as mulheres recebiam outro, justamente para
diferenciá-las dos homens.
Constituíam sociedades tipicamente urbanas, tinham algumas
das cidades mais populosas da África subsaariana. Com relação aos dados
populacionais, os historiadores revelam que alguns núcleos urbanos da região
atingiram dimensões de grande porte, com populações de milhares de pessoas.
Cada uma dessas cidades (planejadas) era dividida em bairros
governados por um chefe seccional, cada uma dessas cidades possuía os seus
nichos sagrados, o seu palácio real, as suas praças de mercado, os seus lugares
de reunião, onde o governo da cidade podia tratar dos seus assuntos e o povo
discutir as novidades do dia. Cada uma delas tornara-se famosas pelos seus
artífices, que trabalhavam em diversos ofícios.
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